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O que tem mais valor: inventar, imitar ou inovar?

Especialistas comentam sobre as implicações que cada uma dessas três formas interfere na evolução do mercado e no dia a dia do consumidor.

Autor: Fábio Bandeira de MelloFonte: Administradores.com

Você sabia que volta e meia as imitações bem feitas superam as invenções?

A empresa de restaurantes White Castle foi à primeira organizar o segmento de fast foods, mas um tempo depois, a rede MCDonald's copiou a idéia, melhorou o serviço e se transformou em uma das principais multinacionais do mundo. O Dinner Club, por exemplo, foi o primeiro a disponibilizar cartões de créditos, mas foi superada pelos "imitadores" do segmento Visa, Mastercard e American Express.

Até o próprio Ipod da Apple é uma versão melhorada do aparelho Saehan Mpman, que não fez muito sucesso no mercado, mas trouxe o formato de mais capacidade nos MP3 já existentes.

Em todos os setores, nota-se a existência cada vez maior no número de empresas que oferecem serviços ou produtos semelhantes ao consumidor. Nesse aspecto, é evidente que a competitividade entre as organizações está em uma verdadeira crescente, por isso, as empresas que procuram e oferecem algum diferencial ao seu cliente aparecem na dianteira de seus concorrentes. Mas o que significa esse diferencial? É inventar algo, aperfeiçoar uma invenção já existente (inovar), ou copiar um produto e fazer pequenos ajustes?


Pontos de vista

Um estudo realizado pelo professor Oded Shenkar, da instituição Fisher College Business nos EUA, sobre o impacto de invenções em modelos de negócios e suas imitações posteriores revelou que as imitações são importantes fontes de avanço para a evolução dos produtos. No estudo foi revelado que 97,8% do valor gerado por invenções vão para os "imitadores".


Mas o que seriam exatamente essas imitações?

Em entrevista à revista Harvard Business Review Brasil, o professor Shekar fala que a boa imitação é aquela que agrega novos valores à invenção. São aquelas pessoas que vêem algo já existente e conseguem transformar aquele produto ou serviço em algo ainda melhor.

"O problema é que muitos imitadores se deixam seduzir pelos elementos visíveis de uma invenção e não copiam aquilo que garante seu sucesso, as 'vigas estruturais'. Às vezes, imaginam equivocamente que o que deu certo num lugar vai dar certo em outro. Outros ficam tão presos ao original que acabam não fazendo ajustes que tornariam uma inovação melhor.", afirma o pesquisador Oded Shenkar para a revista HBR.

Marcos Morita, professor de estratégia e marketing da Universidade Mackenzie, comenta que os graus de imitação variam muito conforme os segmentos de mercado estudados. Em alguns como o farmacêutico, a imitação é impossível, haja vista as patentes.
"Vale salientar que há imitações positivas, quanto negativas. As primeiras são aquelas que agregam valor ao produto ou serviço inicial, conforme expectativas dos consumidores. Aqui se enquadram, por exemplo, os produtos japoneses e agora coreanos. Já as segundas (imitações negativas), fazem cópias puras e simples, sem que nenhum valor seja agregado, além do preço baixo", declara o professor Morita.

Para Felipe Scherer, sócio da Innoscience Consultoria de Gestão da Inovação e autor do livro Gestão da Inovação na Prática, essas imitações como cópias não podem ser consideradas estratégias de sucesso, mas faz uma observação.

"Isso não significa que aqueles que apenas copiam não ganharão dinheiro também, porém o 'filé da rentabilidade' normalmente está associado à possibilidade de ser o diferencial do segmento e, consequentemente, não ter um parâmetro de comparação".

Ele ressalta que às vezes não é necessário ser o pioneiro, mas é necessário sempre buscar inovar em seu segmento. "Ford não inventou o carro, porém desenvolveu uma forma de fabricá-los mais barato. O Cirque de Soleil não inventou o circo, porém conseguiu criar uma combinação de atrações melhor. Empresas como a 3M, Microsoft, Apple, Disney conseguiram manter um histórico contínuo de inovações e sempre agregam valor a sua marca", ressalta Felipe Scherer.


Invenção: E como ficam as patentes?


As patentes são um modo do governo dar ao inventor a propriedade de sua criação. Por um determinado período, os portadores de patentes têm permissão de controlar como suas invenções são usadas, permitindo que obtenham recompensa financeira sobre seu trabalho.

O professor Marcos Morita explica "que o papel das patentes é proteger os investimentos realizados pelas empresas, tais com as indústrias de medicamentos, nas quais este prazo perdura por 20 anos. Mesmo nestes casos, há governos que acabam quebrando este direito em nome do bem comum. Em outras indústrias, patentear um produto ou serviço é tarefa bem mais difícil e onerosa".

Para Morita, o mundo caminha para um sistema de inovações abertas ou "open innovations", nas quais o papel dos consumidores na concepção dos produtos é cada vez maior. "A web 2.0 traz este conceito em sua natureza. Veja o exemplo da Creative Commons, organismo internacional que regula a questão da propriedade intelectual, criando diversas modalidades conforme o uso e autor. Outro exemplo inimaginável foi a FIAT através do projeto MIO – (meu carro em italiano), no qual mais de 3000 projetos foram recebidos". 

O consultor Felipe Scherer é absolutamente a favor das patentes e diz que, dessa forma, incentiva o mercado de invenções. "Sempre haverá risco e incerteza quando as empresas estiverem desenvolvendo coisas novas, portanto parte da recompensa advém dessa possibilidade de haver a proteção pelas patentes. Por que uma empresa iria gastar milhões de dólares em pesquisas para desenvolver determinada vacina ou medicamento se esse investimento não pudesse ser recuperado e o prêmio pelo pioneirismo recebido? É claro que as patentes funcionam bem em alguns setores enquanto que em outros, o melhor mesmo é continuar inovando.", conclui o consultor.